Ex-funcionário diz que PREVI deve 40 bilhões de reais aos demitidos

AMEST O Decreto 81.240/1978 foi fraudado!


Prezado Boechat,

Ouvindo a Band News hoje pela manhã, aliás como faço diariamente, ouvi seu comentário a respeito das reclamações constantes, que os ouvintes fazem acusando-o de atacar o Presidente Lula. Claro que entendi perfeitamente seu posicionamento, pois a bem da verdade o Lula é a bola da vez, é ele que está no poder, portanto a maioria das críticas naturalmente recaem sobre ele.
Eu tenho 55 anos, não tenho partido e tenho verdadeiro asco por políticos, sempre oportunistas, casuístas e mantendo o povo atrelado à miséria desde os tempos da República Velha, com muito poucas mudanças.
Como reclamam que você fala mal do Lula, dos escândalos do governo dele, que diga-se de passagem são deprimentes e só reforçam meu conceito a respeito da classe, vou lhe dar uma notícia muito interessante a respeito do FHC/PSDB, que colocará os 300 milhões da Bancoop no patamar dos trocados.

Infelizmente a história é um pouco longa e cheia de desdobramentos, sendo que cada um deles mais revoltante do que o outro, mas lhe garanto que é a pura verdade, documentada, denunciada e tudo aquilo que vou lhe dizer posso provar com a maior facilidade.Comecemos a história na época do Collor, porque foi no período dele que o Banco do Brasil passou a apresentar resultados negativos constantes em seus
balanços. Poucos sabem o motivo, muito se disse na época, falou-se de inadimplência dos ruralistas, problemas com a condução do Plano Collor e até acusaram os funcionários de marajás, ao que ele imediatamente reagiu e atendeu o clamor da população e já que era Caçador de Marajás, ao invés de demitir aquela vagabundagem dos ministérios, que não fazia nada e ganhava muito, aceitou a determinação global e demitiu 6.000 empregados do BB.

Queriam mais, mas o Plano Collor estava "fazendo água" e o Banco do Brasil era peça importante na fiscalização do que ocorria no meio bancário, principalmente porque os bancos privados estavam boicotando o plano e atendendo as negociações "duvidosas" de sua clientela, temendo - claro - perder mercado. Assim, Collor suspendeu as
demissões, mas a mídia não noticiou e ninguém ficou sabendo de nada, apenas os coitados que perderam o emprego conseguido à custa de um concorrido concurso
público, que você sabe muito bem como era.

Com a entrada do Itamar, de cara disse que não demitiria funcionários do BB, era muito apegado as tradições (vide fusca) e tinha um respeito muito grande pela instituição, admirava a honestidade do corpo funcional do BB, mas infelizmente os registros negativos em balanços sucessivos continuavam. Agora, a verdade sobre os prejuízos do Banco do Brasil. Em 1967 (veja onde já andamos), foi criada a Previ - dizia-se que para garantir um "futuro melhor" para os funcionários da Casa, mas não era
bem isso não, embora também fosse verdade, mas não era o principal objetivo a ser alcançado.

Lá em 1967, o Banco do Brasil estava com um problema sério, porque os aposentados tinham por direito continuar recebendo o salário da ativa e, como não havia outra saída, o BB continuava pagando seus ex-empregados. Isto se tornou insuportável e resolveram criar a Previ, pois a previsão é que o número de funcionários chegaria aos 100 mil rapidamente e o fundo acumularia reservas para pagar os pré-67 (em torno de 20 mil pessoas), que igualmente contribuiriam para o fundo na mesma paridade
dos ativos, ou seja, para cada centavo descontado em folha o BB depositaria 2 centavos e assim o bolo cresceria rapidamente.

Acontece que o pessoal pré-67 ficou com medo da novidade e por precaução não se associou na Previ, preferindo ficar recebendo direto do BB, sendo assim a sangria continuou com a despesa daqueles aposentados, mas já sabendo que aumentar ia mais ainda por conta de mais alguns milhares, que já estavam perto de cair fora e igualmente não se associaram na Previ. Dessa forma não tinha como o BB agüentar
por muito tempo e só não estourou antes porque a "Conta Movimento" tapava o furo, mas com o fim dela a coisa começou a ficar feia.

Bem, voltemos para os anos 90 e a posse de FHC no início de 1995. O homem chegou cheio de idéias neoliberais e compromissado com o imperialismo do Tio Sam, ávido por botar as mãos nas estatais brasileiras. Claro que entre elas figurava o Banco do Brasil, mas FHC tinha um sério problema, porque ninguém se interessaria por uma instituição falida, que já se previa não ter capacidade de sair do vermelho a curto prazo, mas o problema se tornava maior ainda porque o Tesouro Nacional não tinha dinheiro para sanear a instituição. Aí, pensa daqui e dali, as espetaculares mentes tucanas da época, querendo mostrar serviço para o chefão e já de olho no sucesso que fariam
perante os investidores estrangeiros, acharam uma solução "milagrosa":
VAMOS METER A MÃO NO DINHEIRO DA PREVI!

Na época a Previ já acumulava um patrimônio respeitável, principalmente porque não tinha que pagar os aposentados pré-67, que continuavam comprometendo a folha do BB, portanto o fundo dedicava-se exclusivamente a juntar dinheiro dos funcionários que entraram no BB depois de 1967 e que ainda estavam longe de terem direito ao benefício
pelo qual estavam pagando. O prejuízo acumulado do BB já chegava aos 5 bilhões de reais e como o Banco tinha a obrigação de pagar a contribuição patronal à Previ e não vinha fazendo, sua dívida com a entidade já chegava a outros 5 bilhões de reais. Que pepino, hein! Então, a solução final. Lançaram o PDV de 1995, fizeram um alarido, o
Presidente do BB, Paulo César Ximenes, aquele mesmo que vive sendo condenado por "improbidades" diversas, foi para a Globo numa manhã falar em canal aberto com todos os funcionários, claro que devidamente convocados para lá estarem às 6 h da manhã e disse um monte de baboseiras, inclusive que "por amor ao BB" seria exigido do corpo
funcional (o maior patrimônio da instituição) esse sacrifício supremo, mas que todos seriam devidamente amparados por um incentivo financeiro substancial, podendo contar inclusive com um programa de orientação e treinamento para recolocação no mercado de trabalho.

Isto na verdade nunca aconteceu, pois tão logo 15 mil bancários aderiram ao famigerado plano, o BB mandou suspender a estrutura fictícia montada para apoiá-los e jogou no olho da rua milhares de pais e mães de família, quarentões e sem a mínima aceitação no mercado.
Agora, alguém dirá: mas que plano foi esse? Que burrice, como iriam juntar dinheiro para sanear o BB se estavam pagando incentivos? Na verdade estão mesmo é gastando mais ainda! Calma, a coisa foi muito bem pensada. Lembra que eu falei que a paridade das contribuições era 1 para o funcionário e 2 para o Banco do Brasil? Então, o plano macabro consistia no seguinte: demitiriam um determinado número de
funcionários, não importando se o Banco ficasse com falta de pessoal (botaram estagiários a troco de banana no lugar deles), dariam o direito ao resgate das contribuições à Previ, mas apenas as CONTRIBUIÇÕES PESSOAIS dos demitidos, retendo a CONTRIBUIÇÃO PATRONAL, que era o dobro da pessoal, até que essa retenção atingisse a soma "espantosa" de 10 BILHÕES DE REAIS.

Depois foi fácil. Juntada a grana, a Previ, em 23.12.1997, pagou ao BB a quantia de 5 bilhões por conta dos pré-67 e a partir daí assumiu a bronca e emprestou ao Banco mais 6 bilhões, para pagamento em 32 anos com juros módicos. Bem pertinho do final do ano não? Então não preciso nem dizer que a partir daí o BB passou a dar lucro novamente. Tá na cara quem pagou a festa! Há quem diga, inclusive a maioria das
pessoas, coisas do tipo: "pegaram uma grana preta e caíram fora, agora estão chorando?. Ou, pior ainda, eram marajás, tinham mais é que se ferrar?, mas o mais corriqueiro foi: aderiram ao PDV espontaneamente, receberam suas indenizações e
foi um ato jurídico perfeito?. Mentira, pura mentira. Não foi assim que aconteceu. Primeiro, o PDV foi lançado em meados de junho/95 e o tempo de opção seria até 31.7.95. Mais de 30 dias para pensar, mas a adesão inicial não foi a esperada, então começou a pressão. Todos os gerentes receberam carta branca para demitir sumariamente, portanto se o sujeito não gostasse da cara de alguém, olho da rua e fim de conversa. Depois, começaram a chegar nas agências "listas de demitidos elegíveis", aqueles considerados pela direção do BB como descartáveis e as listas eram grandes.
Naquele clima de terror, todo mundo se viu numa sinuca de bico, pois se não aceitassem o incentivo seriam demitidos sem ele, sem dó nem piedade e já que o nome do dito cujo estava na lista, o mais aconselhável seria que pegasse o chapéu e fosse para casa. Por outro lado, temos que lembrar a época do acontecimento, um tempo de achatamento salarial brutal dentro do BB e também levar em consideração a que se propunha a Previ em termos de aposentadoria para os associados, pois sendo um fundo de "complemento" do valor recebido do INSS até o limite do salário da ativa, qualquer um sabia que sua aposentadoria seria quase que totalmente paga pela Previdência Social, restando muito pouco para a Previ complementar. Não esquecendo que noutros tempos, quando o salário realmente era bom dentro do BB, altas somas foram descontadas dos empregados e entregues à Previ. No momento do PDV o negócio não se mostrava compensador, então era melhor cair fora e resgatar suas contribuições do que arriscar ficar e acabar perdendo tudo. Até certo ponto uma decisão
acertada, porque hoje o salário do BB é inferior ao teto do INSS.

Uma grande vilania já veio por conta da situação do quadro funcional, de como ele era formado. O Brasil é imenso e os estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, estavam tomados por gente oriunda do RS, SC, PR e SP. Lá, buscando galgar os cargos da carreira, se instalaram jovens e suas recém formadas famílias, enfrentando todas as
dificuldades da época. Não havia hospitais, escolas, farmácias, água potável, luz
elétrica e muito menos saneamento básico, coisa de que até hoje a maior parte das pequenas comunidades dessas regiões ainda não dispõe. Os anos 70 e 80, tempo do "milagre brasileiro" e da ditadura militar, foram marcados pelos altos investimentos na agricultura, com ênfase ao avanço das fronteiras agrícolas. Quem foi para Rondônia ou
Mato Grosso naquela época buscando terras, que não tinha um estreito relacionamento com a agência local do Banco do Brasil? E muita gente esquece que uma agência bancária não funciona sozinha, precisa de gente.

Agora me diga, de onde tirar funcionários naquela região, quando sequer os habitantes escolarizados eram em número suficiente para suprir as vagas? Ora, é óbvio que se obrigaram a trazer gente de fora. Assim jovens, mas jovens mesmo, gente com 20, 21, 22 anos foram para lá iniciar orgulhosamente sua carreira no BB. Chegando lá encontravam gerentes gaúchos, chefes paulistas, caixas paranaenses e por aí vai.
Agora, você veja, o sujeito lá no fim do mundo, longe de casa, muitos com família, ganhando uma mixaria e correndo o risco de ser demitidos, o que iriam fazer diante da pressão? Claro que não tinham outra saída a não ser abraçar o PDV e voltar para casa, tentando a sorte em algum negócio. Isso foi uma grande canalhice, isso levou pessoas de bem ao desespero, gente enlouqueceu, outros caíram em depressão profunda, famílias se esfacelaram pelo alcoolismo, filhos pagaram o pato - e o pior ainda
estava por vir, pois logo começaram as notícias dos suicídios, tristes, insuportáveis, mas reais.

Esse pessoal foi o mais atingido e se engana quem acha que a grande maioria aderiu ao PDV. Os funcionários resistiram mesmo assim, bravamente, não acreditavam que seu "Grande Pai" teria coragem de demiti-los e jogar no lixo uma história de cumplicidade de quase 200 anos, mas se enganaram e foram postos na rua aos borbotões. A maior parte dos desligamentos da época deu-se por demissão sumária e não por adesão ao PDV. Mas para os "engenheiros do plano" eram vistos apenas
como soldados na guerra: "perdas aceitáveis e necessárias pelo bem de
todos". Não eram vidas, não eram famílias, apenas números exigidos
pelo capital que se propunha a arrematar o Banco, enxutinho e saneado,
pronto para dar bons lucros.

É difícil acreditar, mas foi FHC que fez isso! Um doutor em Sociologia, reconhecido no mundo inteiro. Pode ser difícil, mas foi ele sim. Os motivos? Podem ter sido só a busca pelo alinhamento com a doutrina neoliberal, ou quem sabe por um fim sociológico, afinal a Sociologia não é o estudo do comportamento das pessoas dentro de um grupo? Então, vai ver que ele resolveu criar seu próprio "laboratório" e estuda-lo em suas "teses". Quem sabe queria ficar famoso, como Vitor Hugo, autor de "Os Miseráveis", e estava preparando sua obra prima "Os Desgraçados", quem sabe?

Mas voltando à vaca fria, vimos que em torno de 20 mil deixaram o emprego até dezembro/97 e a Previ confiscou parte de seu fundo de pensão para sanear o BB, porém quem pensa que a coisa parou por aí se enganou. Era apenas a primeira parte do plano que tinha se completado, pois o BB ainda não estava enquadrado dentro das exigências dos pretensos compradores e mais ainda deveria ser feito. O problema é que a capacidade de incentivo e perseguição dos funcionários tinha se esgotado e já corriam dentro das agências as notícias sobre os primeiros demitidos em julho de 95, que - passados mais de 2 anos - já estavam na mais pura miséria, desempregados e
desesperados, muitos trabalhando de bicos tentando sobreviver a qualquer custo.

Então, num passe de mágica, já que o BB já estava saneado, bastando apenas para contentar os compradores adequar a folha de pagamento ao percentual do patrimônio líquido exigido, resolveram dar um incentivo ainda maior para quem aceitasse sair. Por incrível que pareça, a partir de dezembro/97, quem saísse levaria de brinde a "Contribuição Patronal" do BB. Ora, uma bofetada naqueles 20 mil de 95, que tiveram
seu fundo de poupança confiscado e o pior, ao mesmo tempo que a Previ negava veementemente no judiciário esse direito ao pessoal de 95, dava administrativamente aos pós-dezembro/97, numa nítida falta de vergonha na cara, coisa que diga-se de passagem nunca tiveram.

Assim, o BB caminhava célere para a privatização, grande sonho de FHC, que já vinha "torrando" estatais a torto e a direito, mas eis que algo novo acontece.A operação de entrega dos 11 bilhões ao BB em dezembro/97, gerou uma série de especulações e protestos por parte das diversas associações de funcionários e aposentados ligados ao BB, inclusive a então senadora Heloisa Helena entrou com uma denúncia no TCU, questionando a operação como ilegal. Argumentou muito bem e o relator, Ministro
Adylson Motta, acolheu a denúncia, mas infelizmente a pobre hoje cria teias de aranha nas gavetas do órgão, não se sabe por influência de quem.

A bem da verdade, a história real do Brasil de todos os tempos encontra-se em gavetas e não nos livros, mas a ação da Heloisa Helena ajudou e muito. Quase pronto para a privatização, FHC levou um revés. Uma pequena associação de Porto Alegre, chamada Amest, montou uma ação judicial contestando toda a operação, mas como não tinha dinheiro para bancar o processo, valeu-se de uma parceria com a Unamibb, bem
estruturada associação de defesa dos acionistas minoritários do BB, na época
presidida pelo eterno lutador Ciro Verçosa, que patrocinou a questão e obteve êxito inicial, impedindo tecnicamente a privatização, porque com sentença favorável ao final, o BB deveria ser condenado a desfazer a operação, portanto voltaria ao plano de "deficitário". Assim, os investidores colocaram as barbas de molho e fecharam a carteira. A turma de FHC continuava esperançosa e manteve as demissões no BB, pois
acreditava na derrota da tese da Amest/Unamibb, esperando que encerrada a disputa e as metas de enxugamento do banco já estando atingidas, seria um pequeno passo para privatiza-lo.

Claro que o tempo estava passando e nos aproximávamos do pleito de 2002 , mas o pessoal de FHC continuava confiante na vitória, que se sabe não aconteceu. Lula venceu, assumiu e suspendeu as demissões e o plano de FHC ficou para a próxima, enquanto a ação da Amest/Unamibb não se sabe a quantas anda, tampouco a denúncia da Heloisa Helena, mas dos males o menor, pelo menos a coisa estancou.

Mas que beleza! Lula ganhou! Nosso defensor, o Robin Wood dos trabalhadores! Agora estamos feitos, afinal lutamos no PT desde seu nascimento, caminhamos lado a lado com o Lula, Olívio Dutra, Tarso Genro, Pimentel, Bernardo, Mercadante! Empunhamos bandeiras vermelhas estreladas, lideramos greves, sim porque os metalúrgicos do ABC não tinham representação nacional, foram os bancários que espalharam o PT pelo Brasil afora. Chegamos até a apanhar da polícia nos comícios, mas tinha valido a pena e ainda desnorteados pela surra que FHC nos dera, continuamos firmes na bandeira vermelha e colocamos o homem lá.

Ele assumiu, lotou a Previ de sindicalistas semi-analfabetos, ocuparam todos os cargos de diretoria das empresas controladas pela Previ, sentaram naquela dinheirama toda e NOS DERAM UMA BANANA! Afinal já tínhamos sido demitidos mesmo e eles já estavam eleitos. Pra que fazer alguma coisa e mexer com a fonte do caixa 2? Assim, a Previ entrou num mar de escândalos e sumiços de dinheiro sem precedentes. Só no tal Costa do Sauípe na Bahia consumiram 800 milhões de reais e não é coisa
minha não, pois a própria Previ anunciou que investiu 1 bilhão de reais no empreendimento e, não alcançando o sucesso esperado, vendeu por 200 milhões de reais. Onde será que foi parar a bagatela de 800 milhões?

Bem, antes que essa faceta política me revolte o estômago, vamos passar para outra não menos revoltante: O JUDICIÁRIO. Os funcionários do Banco do Brasil sempre tiveram uma confiança quase que paternal no Banco e suas instituições e, ao saírem em 95, acreditavam piamente que todos os seus direitos haviam sido respeitados, mas com o correr dos anos e sabendo de todas as barbaridades praticadas pela instituição
contra seu pessoal,começaram a estudar mais profundamente as contas de suas demissões, depois já estava todo mundo na miséria mesmo e não custava nada dar uma "esmiuçada" procurando mais algum, quem sabe.

Dessa forma começaram a descobrir que as benditas "cotas patronais", negadas pela Previ sob a alegação que foram depositadas pelo BB e não pelo associado, poderiam ser discutidas no judiciário, principalmente com a seguinte argumentação: A Previ, em seu estatuto de 4.3.80, passou a operar no sistema de CAPITALIZAÇÃO. Isso significa que cada associado tinha uma conta individual, como uma poupança, mais ou menos
o sistema aplicado pelos fundos de aposentadoria dos norte-americanos. Então, se assim era, obviamente tudo aquilo que fosse depositado na conta do participante,
indiferente de ser descontado do seu salário ou depositado pelo patrocinador, lhe pertencia, não se podendo fazer distinção entre as origens dos créditos.

Mas a Previ continuava negando. Claro que sem fundamento legal, porque o artigo 31 do Decreto 81.240/78 (guarde bem o número desse decreto, pois ele é a chave de toda a questão) que regulava pela primeira vez os fundos de pensão fechados e abertos, dizia que seriam devolvidas aos que se desligassem do plano um determinado percentual das "CONTRIBUIÇÕES VERTIDAS" ao fundo, não fazendo alusão a origem da contribuição, se pessoal ou patronal. Óbvio que o legislador, que por sê-lo não podia ser burro, não dividiu as contribuições em pessoais ou patronais, porque o termo
utilizado já englobava todas elas e se o sistema adotado era de capitalização, mais óbvio ainda seria que a totalidade da conta fosse do titular. É como você chegar num banco, pedir seu saldo, querer sacar e o funcionário lhe dizer que você só pode sacar uma parte, porque a outra não foi depositada por você e também não será devolvida
para quem originou o depósito, vai mesmo é ficar de presente para o
banco. Uma insanidade, não?

Pois é, mas insanos foram os juízes do STJ, que concordaram com a Previ, diga-se quase todos nomeados por FHC, principalmente o relator da matéria, o falecido Menezes Direito (que Deus o tenha, se é que é lá que está) e enterraram as pretensões dos demitidos com a emissão de três súmulas, admitindo numa delas apenas que as devoluções das contribuições pessoais deveriam ter sido corrigidas considerando os expurgos dos planos inflacionários. As outras duas dizem que o prazo prescricional é de cinco anos e a pior delas dizia que a parte patronal não pertence
ao participante.

Por conta de quê o STJ rasgou o decreto 81240? Por conta de quê o STJ sentenciou sem ao menos conhecer o sistema de previdência privada capitalizado? Bem, eu não sei. Sei apenas que a juizada andou lá pela Bahia em grandes festas patrocinadas pela Previ, regadas a vinhos importados e petiscos exóticos. Bem, aqui faço um parêntese em defesa do Ministro Ruy Rosado, ferrenho defensor da tese dos demitidos.

Então, assunto sumulado, a Previ cada vez mais forte, alardeando superávit de 50 bilhões, o Banco do Brasil saneado e dando lucros históricos - e os demitidos do BB inconformados com a pouca sorte, derrotados e chorando suas mágoas pelos blogs da vida. Bem que poderia ser o fim da história, mas não é, FELIZMENTE não é! Digo
porque e conto a história que nos trouxe a esperança de volta. Vamos lá, estava louco para chegar nesse ponto e não digam que não avisei que a história era longa!

Lembram-se de que falei do decreto 81240/78? Pois é, ele foi do tempo do Presidente Geisel, regulamentou a Lei 6435/77 e foi a regra a ser seguida pelos fundos de pensão a partir daí. A Previ editou seu estatuto em 4.3.80 e baseou-se nele, ou pelo menos deveria te-lo feito, não fossem as incongruências que encontramos ao longo dos
tempos. Os demitidos do BB, inconformados com a série de derrotas e com as injustiças sofridas, debruçaram-se sobre a legislação, estatutos, normas, portarias e tudo mais que se referisse a seus direitos negados, usurpados, surrupiados, tanto pelo executivo quanto pelo judiciário. Criou-se então a desconfiança de que algo errado havia com a tal decreto, fato esse que nasceu da análise do texto, chegando-se a
conclusão que a coisa não parecia coisa de legislador experiente..

Descobrimos que o decreto do Presidente Geisel fora publicado no Diário Oficial da União em 24.1.78 e foi retificado em 16.6.78. Primeiramente, viu-se que a data da retificação estava fora do prazo legal e, depois, a publicação analisada através de cópias do DOU de 16.6.78, mais parecia coisa ajeitada, na base do puxa um espaço pra cá, puxa outro pra lá e se arruma um lugarzinho para por uma pequena nota retificadora. Coisa muito estranha. Restava então e era condição básica para a investigação, conseguir os originais nos arquivos oficiais do Governo. Pedimos, buscamos, requeremos, mas nada, nada mesmo, chegaram ao cúmulo de dizer que o
livro não estava à disposição porque teria sido consumido por "fungos". Pôxa, mas que fungo mais seletivo esse!

Assim, a investigação parou por falta dos documentos. Agora, vamos ver o que a retificação representa. O artigo 31 do referido decreto trata justamente dos direitos dos participantes quando se desligassem do plano de benefícios, elegendo as possibilidades e percentuais para resgate das contribuições. Pois bem, a publicação original de 24.1.78, dizia no artigo 31, inciso VII, que o participante que deixasse o emprego voluntariamente, teria direito a receber 50% das contribuições vertidas ao fundo, podendo ainda sair só do plano e continuar no emprego. O inciso VIII, logo a seguir, falava que os participantes que deixassem o plano por demissão sem justa causa, teriam direito ao saque das cotas proporcionalmente ao tempo e idade. Vejam que isto é o contido no texto original do decreto.

Com a inserção da retificação em 16.6.78, a coisa mudou de figura, pois simplesmente passaram o direito do inciso VII para o VIII, deixando o pessoal do VII (os que pedissem demissão) sem direito algum e limitando os direitos do pessoal do VIII em 50% das contribuições vertidas. Agora pergunto: porque fazer a alteração? Por um motivo muito simples. Lembram-se de que eu disse que a Previ foi criada tendo a
obrigação de pagar os aposentados pré-67 como uma de suas finalidades?
Pois é, para fazer frente ao compromisso necessitava capitalizar-se o mais rápido possível. Então, se quem pedisse de missão poderia sacar 50% das contribuições, certamente muita gente depois de 5 ou 6 anos de casa poderia se aventurar a pegar sua poupança, continuar no emprego e começar tudo de novo, sacando quando bem entendesse. Isto atrasaria a intenção de capitalizar rapidamente. Então, "retificaram" o decreto e impuseram a nova regra.

Acontece - PRESTEM ATENÇÃO - que na noite de 3.11.2008 dois demitidos
abelhudos acabaram por encontrar nos arquivos oficiais o ORIGINAL do Decreto 81.240/78, assinado pelo Presidente Geisel. Agora, leiam sentados, se estiverem de pé! Pois o original do Presidente era cópia fiel do que fora publicado no DOU de 24.1.78, sem emendas nem rasuras!
Então a pergunta: porque publicar uma retificação, fora do prazo legal, 143 dias depois, por erro de impressão, se a publicação de 24.1 estava fiel ao original?
Bem, a resposta só poderia ser uma: A RETIFICAÇÃO PUBLICADA EM 16.6.78
É UMA FRAUDE, UMA COVARDE E GROSSEIRA FRAUDE FEITA DENTRO DA IMPRENSA NACIONAL, UM ORGÃO OFICIAL DO GOVERNO!

Quem fez? Não sei. Quando fizeram, qual era o governo? Também não sei. Só sei que fizeram e cabe ao poder público investigar e achar os culpados. Bem, descoberto o crime, ficamos atônitos e gritamos aos quatro ventos o ocorrido. Procuramos políticos, mas não nos deram a mínima. Procuramos a mídia e ela nada fez, creio que pensando que coisas tipo "Watergate" eram só para americano, tupiniquim tem mais é que aprender a conviver com a falcatrua política. Assim, criamos as nossas associações e uma delas conseguiu uma audiência pública na Câmara dos Deputados. Fomos lá, até com cartilha publicada sobre a fraude. Alguns congressistas estavam lá e ficaram
boquiabertos com o crime. Discursaram, gritaram, prometeram providências imediatas e de lá saímos felizes da vida, crentes que nossos dias de penúria chegariam ao fim e que a justiça finalmente seria feita. Triste engano. Tão logo viramos as costas a politicalha foi cuidar de seus "tantos" afazeres e nos jogaram no esquecimento.

Mas houve um político, apenas UM, que sequer estava na tal audiência pública, mas que foi procurado por alguns colegas, que se prontificou a ajudar e a fazer o possível para que o caso fosse adiante: O Deputado Federal Celso Russomano, a quem devemos nossa esperança. Quanto à mídia, apenas o Correio Braziliense nos deu espaço, inclusive publicou importante matéria sobre o assunto em sua edição de
14.3.2010, informando que o Deputado Celso Russomano encaminhou pedido
de informações à Casa Civil e recebeu a resposta de que o Governo não tem documentos que possam provar que a fraude não aconteceu, o que reforça nossa posição e nos dá a devida segurança para dizer, que realmente aconteceu, caracterizada principalmente pelo trabalho pericial realizado.

Enquanto isso, para ajudar um pouco mais, a Previ está executando e tomando as casas financiadas por ela (que quase todo mundo tinha), jogando os ROUBADOS no olho da rua sem dó nem piedade porque, desempregados, ninguém conseguiu seguir pagando as prestações. É o golpe de misericórdia neles.

Agora, vamos falar um pouco de números, para dar a exata dimensão da coisa. Vamos tomar por média um funcionário como eu. Recebi 30 mil reais da Previ em 95, mas com a súmula dos expurgos inflacionários, deveria ter recebido 50 mil. Por conseguinte, se a minha parte dava 50 mil, isto significa que a parte patronal daria 100 mil. Isso lá em 1995. Agora, atualize o valor e chegaremos na casa de UM MILHÃO DE REAIS só para este simples mortal, mas como na primeira leva foram 20 mil demissões, podemos dizer com segurança que a Previ deve para aqueles coitados (entre eles eu) a módica quantia de VINTE BILHÕES DE REAIS! Isso sem contar que, após o encerramento das demissões dos pré/97, continuaram demitindo sob a tutela de um anunciado incentivo de 80% das cotas patronais, que na verdade nunca foi pago, pois o pessoal pós 97 também recebeu uma mixaria, que não chega nem perto dos aludidos 80% prometidos.

Incluindo todos, nossos cálculos andam lá pela casa dos 40 BILHÕES DE REAIS! É grana, hein? Quantas mega-senas dá? Nem sei fazer a conta, minha máquina não tem tantos zeros assim. Difícil é aceitar que a Previ fique alardeando superávit, sabendo que boa parte dele foi roubado de nós, os 40 mil demitidos do BB. Então, gostaram da
história? Acho que está mais para "A saga dos demitidos do BB". Agora, seria ingenuidade de minha parte dizer que estou lhes escrevendo sem interesse nenhum. Quem sabe uma mãozinha na mídia? É ano eleitoral equem sabe algum candidato abraça a causa? Não importa o partido. Não temos partido. Nosso partido é o dos demitidos e mais nada. Se ninguém puder fazer nada, pelo menos fale no assunto na Band News, só uma frase já basta, mas não esqueça, por favor falem meu nome
e avisem quando para eu gravar e mostrar para meus filhos dizendo: "Viram,
eu fiz alguma coisa, meu nome saiu até no rádio". Eu sei que é coisa de cinema, mas sonhar não é crime e eu sonho ver nosso pessoal sentado no Canal Livre, mandando ver, mas deixem pra lá que agora já to viajando!

Meus amigos, somos quase todos sessentões, lutamos há 15 anos por justiça e reconhecimento, principalmente pelo sacrifícios que fizemos pelo Brasil, pelo que nós mesmos passamos e fizemos nossas famílias passarem, buscando principalmente os culpados para que sirvam de exemplo e paguem caro, para que outros não se atrevam a tão sórdida covardia. Eu já ando meio cansado, 3 ou 4 infartos, passo o dia sentado na frente deste PC de segunda mão, que nem banda larga tem, é na discada mesmo
porque não posso pagar coisa melhor, mas mantenho a esperança viva, pelo menos em algum tipo de justiça.

Confirmem tudo que eu disse, basta escrever no GOOGLE "demitidos do BB", que um mar de informações vai saltar na sua tela.

Um grande abraço,
Ary Taunay Filho